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Garganta do Diabo


Trilha realizada com Jorge soto,

Relato:

Anubis, Saltão e Cachoeirão são as três grandes quedas próximas do desfiladeiro conhecido como “Garganta do Diabo”, antes do Rio da Onça prosseguir seu curso rumo o “Vale da Morte”. Três grandes quedas que sempre ignorei por algum motivo durante travessias neste fantástico vale, situado nas entranhas escarpadas da Serra do Mogi. Buscando sanar essa desfeita e curtindo estes dias quentes de verão com banhos refrescantes, voltei de forma despretensiosa às cachus do Anubis e Saltão, uma vez que o Cachoeirão descrevi já noutra ocasião. Dois momentos bem distintos nesta acidentada região serrana situada na divisa de Sto André e Paranapiacaba, com direito até mergulho no interior da “goela” deste endemoniado cânion.

O segundo momento se deu quando retornei ao mesmo local, cerca de 3 semanas depois, com a diferença que o bate-volta foi numa quinta-feira, dia útil da semana. Pela disponibilidade, a única que topou me acompanhar desta vez foi a Cris Kinguti.

Desta vez começamos a andar na trilha por volta das 8:40hr. E pra não repetir Todo novamente, apenas menciono que refizemos Todo trajeto descrito até a clareira situada ao lado da “Garganta do Diabo”.Com a diferença que não encontramos vivalma em Todo trajeto, o que realmente torna a pernada muito mais agradável e a comunhão com a natureza, plena. Minto, tinha apenas um trio no “Lago Cristal”. Depois dele, o “Vale dos Cristais” era praticamente de domínio absoluto nosso.

Pois bem, da clareira de acampamento desta vez tomamos a vereda da esquerda, que mergulhou sinuosamente na mata, em nível, e nos levou na borda do desfiladeiro. Ali, no alto dum dos paredões de rocha se tem outra bela perspectiva do cânion e de Todo sua extensão. A picada acompanha o alto da muralha quase que sem apoio de tão estreita que é, e qq escorregão é queda de quase 30m, mas o arvoredo em volta garante os apoios necessários pra prosseguir. Contudo, não tarda pra picada abandonar o cânion e mergulhar outra vez na mata a direita. Ali, perde altitude vertiginosamente e há necessidade de se firmar no que tiver à mão. Rochas, galhos, raízes, cipós, etc. Enfim, qq coisa serve na desecalaminhada.

Uma vez lááá embaixo, as 11hrs e ao desembocar nas primeiras rampas rochosas, observamos o final do cânion fazendo uma curva fechada pra direita. E desescalaminhando o último trecho damos nas lajotas no leito do rio, que aqui marulha manso até se perder noutra curva, onde se enfia noutro vertiginoso cânion rumo “Vale da Morte”. Dali temos o primeiro contato visual da “Cachu Anubis”, ruidosa queda de menos de 20m de onde o Rio da Onça deságua após percorrer emparedado Todo extensão da “Garganta do Diabo”. Um conhecido a chamou de “Anubis” e, por não ter conhecimento de seu nome oficial, adotei essa denominação mesmo. Alcunha apropriada, diga-se de passagem, pois a cascata é digna tão de reverências quanto o deus egípcio que lhe empresta o nome. Entretanto, se alguém souber da verdadeira nomenclatura desta queda favor me corrija. Claro que ali tivemos um demorado pit-stop pra descanso, lanche e um tchibum refrescante. Enquanto isso, um bando de andorinhas parece nos dar as boas vindas dando inúmeros rasantes no ar e no rio.

Revigorados e não satisfeitos, decidimos ter uma perspectiva privilegiada do alto da “Cachu Anubis”, isto é, da estreita boca do desfiladeiro. Pra isto basta escalar Todo de volta e tomar um desvio meio que óbvio. E após um tercho de desescalaminhada pelas aderências da rocha damos no alto da cachu, onde temos de onde se tem uma vista fantástica tanto do poção na base da queda como do interior da “Garganta”. Não satisfeitos ainda decidimos adentrar no desfiladeiro, e pra isso bastou se esgueirar pelo estreito corredor de pedra ora caminhando com água na altura da coxa ora agarrado ás suas paredes laterais. Ali dentro é que se tem uma noção da grandiosidade claustrofóbica da natureza e do quão minúsculos/insignificantes somos perante ela. E claro que tivemos mais um tchibum, agora dentro do “Gogó do Tinhoso”. Em tempo, o rio estava com volume menor de água e isso facilitou acesso ao interior do cânion com relativa segurança. E como nossa amiguinha logo percebeu, esta região so deve ser visitada com perspectiva de tempo ótimo, pois em dia de chuva torna-se extremamente perigosa.

De alma mais que lavada, um tempo depois retomamos a longa caminhada de volta rio acima. No alto do vale tivemos um breve pit-stop de descanso pra, logo na sequência, tocar em definitivo fora da trilha. Antes de pisar no asfalto, porém, uma última olhadela no sopé da torre de alta tensão contruida ano passado, cuja base agora serve de estacionamento ideal pra muvuca acessar o vale, nos finais de semana. Sim, ali naquele dia não havia ninguém, mas o fato não deixa de escancarar a contradição dos avanços da modernidade: se por um lado traz benefícios prum tanto; pra natureza só trouxe mais impacto e sujeira.

Diferentemente da vez anterior, desta vez deu gosto de bebemorar o final da empreitada no tradicional botequinho de Rio Grande da Serra, sem estresse ou desgosto algum. Entretanto, o fato é que a outrora tranquila e sossegada região serrana da Serra do Meio foi descoberta pela população, fato. A facilidade de acesso atualmente apenas agravou uma situação antes apenas latente; se antes o andarilho fazia uso necessariamente de transporte público pra chegar nela, agora ele pode ir no conforto do seu veiculo. Facilitou acesso, facilitou a entrada de Todo tipo de gente. E não apenas trilheiros responsáveis, únicos visitantes da região anos atrás. Pena. É nessas que vira e mexe me vejo torcendo pelo retorno de proibições ou fiscalizações ambientais mais rigorosas, mas a real é que a região está largada ao “deus-dará”. E eu que deixei de frequentar a região por um bom tempo – devido a exposição negativa que ganhava na mídia devido aos constantes resgates e acidentes – acho que devo continuar dando minha (minúscula) contribuição de dispersão do turismo. Como? Evitando novamente pisar nesta região espetacular da Serra do Mar por mais um tempo. Ou voltando apenas fora dos farofados finais de semana.

http://altamontanha.com/Aventura/4684/garganta-do-diabo-em-dois-tempos


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